e a grande pergunta: quem sou eu?
um caminho, de muitos, a se percorrer... uma força, talvez... um convite à solidão... voltar-se para si, e ecoar

sexta-feira, 14 de maio de 2010

ah, a roça...

e o verde que te quero bem...
as goiabeiras e os cavalos,
e a estrada ruim pra carro que não tem mais fim;
quantos pastos verdes... um gavião ou outro,
siriema, raposa, tatu e corsa;
aranha ou cobra...
o resto é vaca e boi...

a Bandeirante cheia de folga;
a minha saudade... cheia daquilo que se parece angústia, mas é bom...
saudade...
ai, a roça... ah, os tempos que estive lá...
agora sou só saudades...
a cerca por consertar, e funcionários que enrolam...
ah, saudade dos funcionários, e do suco gelado que eu fazia e levava e todos gostavam...
eu passando pela cidade, todos me cumprimentando com muita consideração e eu conhecendo a poucos...
saudades...

as maritacas, feito nuvens cobrindo o céu e um canto que vira barulho e nada mais se ouve...
muita saudade...
saudade da varanda, onde eu passava horas a fio, a fim de pensar em algo que me valesse lembrar depois...
saudade do medo que eu senti indo à senzala, tarde da noite pela primeira vez...
dos casos que contamos e das fogueiras que acendemos...
os fantasmas que espantamos e oremos as orações...
o oratório de duzentos anos, os espíritos com os quais convivemos...
saudade...

galinhas e patos e pintos e patinhos comendo os milhos que joguei pela manhã, e a horta que reguei...
limoeiro mais espinhento, perto da mina e da mata, nunca vi; catávamos os limões...
a represa em que remamos em uma balsa, pulamos de ponta, cambalhota, costas, e como pudéssemos... nadamos...
um pé de aroeira pra fazer cabo de enchada, as ferpas das canas nos dedos e nas mãos e nas roupas e no pescoço...
tudo me apraz e me faz falta...

saudade da benzedeira, que me curou de quantos maus olhados...
e daquela família, para quem quando indo buscar areia na beira do Paraúna, perdidos, pedimos informação; uma casa isolada em meio à nem sei o quê... e da casa me saiu uma dona, das mais simpáticas, que conversou com a gente em uma língua que eu nunca vou saber...
saudade da língua que eu aprendi lá... o jeito de falar...
saudade de estar cercado por pastos, matas e montanhas...
eu, que me vejo mais de lá, morro de saudade daquele nosso interior

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