a escrivaninha do meu avô,
e uma bagunça dele de papéis,
lembrança que trago da infância,
que me desperta a simpatia pelo eu que fui quando era criança
via tudo de mais de baixo,
e era de uma alegria que não conhecia o mau;
era divino, feito toda criança,
e com isso eu simpatizo.
a gente acha que caminha,
mas a vida se conduz por só,
aquela escrivaninha e seus segredos,
aquelas estantes com livros sagrados...
uma cabeça de peixe empalhada - que monstro
nunca desvendei nada daquilo,
que - como agora eu o digo -
aplicava em minha cabeça frágil o aroma dos ares de coisas de adultos,
eu sentia uma curiosidade tímida:
de que tratariam quantos papéis e livros?
a cabeça de peixe foi troféu de pescaria de meu avô
esse meu avô guardião do escritório
agora mesmo não desvendo aqueles instantes
desses livros poucos eu conheci depois,
já não tinha a admiração infantil de antes,
já tinha algo de entender coisas de adultos que não se dá com a admiração
a essa hora era uma inclinação
ao respeito que merece o meu sábio avô
esse escritório que figurou em minha infância,
os livros que não li, tudo aquilo que rejeitei,
os prazeres, mesmo, aos quais me entreguei.
todo o mais que me ocorreu,
minha vida se alimentou disso e vem se fazendo,
importando pouco o que eu tento racionalizar
sem resposta
Há 7 anos
ele tinha a escrivaninha e voce tem sua gaveta.
ResponderExcluirgaveta de sonhos, pesadelos e lembranças...
aquela pontinha te esperando, aquele resto esperando te sorpreender, na hora H, quando aquela pitada ajuda...
e sim. a gente cresce e olha para atrás e aparecem as lembranças daquilo que fomos e nunca mais vamos ser